[Opinião] A característica arquitetônica de Goiânia está empobrecendo a cada dia
A capital Goiana passa por um novo ciclo de crescimento vertical que tem promovido uma forte renovação de seu tecido urbano, colocando em risco importantes exemplares que identificam a história da arquitetura moderna na cidade. Da identidade urbana dos planos iniciais da cidade, resta pouco. O Setor Sul, projeto de Armando de Godoy, implantado na década de 1950 e ocupado basicamente entre as décadas de 1960-70, permanece razoavelmente bem conservado no seu conjunto. Mas falta de um processo integrado de avaliação e documentação deste patrimônio dos outros bairros que tiveram sua ocupação consolidada neste período, dentre os quais os setores Oeste, Jaó, Aeroporto, Coimbra, Bueno, Leste Universitário e Marista.
Quanto ao centro de Goiânia, a exemplo de outras cidades brasileiras, este apresenta um patrimônio moderno diversificado e diluído com outras tendências que vem sendo constantemente alterado com a contínua renovação de suas edificações. Quem está mais vulnerável é o acervo arquitetônico da art déco, movimento das décadas de 1920 e 30 no mundo inteiro, que foi muito importante nas primeiras construções de Goiânia , no início a cidade foi projetada em estilo Art Déco em 1933 por Attílio Correia Lima. O art déco é marcado pelo rigor geométrico e predominância de linhas verticais, havendo a tendência de tornar, através da percepção, o edifício mais alto. Os volumes arquitetônicos são também marcados pelo escalonamento, pela transposição da ideia do Zigurate, aproximação de formas aerodinâmicas. Tudo partiu de um movimento popular internacional que teve seu início na Europa por onde perdurou cerca de vinte anos e foi se espalhando pelo mundo por volta de 1930. Esse mesmo estilo pode ser apreciado no Empire State Building e o Rockefeller Center em Nova York.
O acervo arquitetônico e urbanístico Art Déco em Goiânia reúne significativo número de exemplares, construído nas décadas de 1940 e 1950. Entre elas podemos identificar o Palácio das Esmeraldas e a estação ferroviária. Goiânia é linda, tem problemas sim, assim como outras cidades, mas possui uma história recente de formação que lhe confere um acervo de art déco e de outros estilos também interessantes e que deveriam estar sendo bem preservados. Vale a pena dar mais uma olhada no projeto de construção dessa cidade, no planejamento urbano e em sua história.
Mas estamos observando impotentes diante da disseminação da perda de identidade dos espaços a fim de atender necessidades da especulação imobiliária. Nossa cidade deu vazão ao imediatismo, ao comercial, a demanda imobiliária, esqueceu do belo, do novo, do contemporâneo e de seu passado. Com nosso trânsito caótico, sem investimento em um transporte público eficiente, a metrópole sofre com a poluição do ar, sonora e visual. Onde o que é belo são os interiores dos shoppings. Rica naturalmente em áreas verdes, nossos bosques estão condenados a mesmice, ao abandono a ocupação comercial. O turismo de negócios outro importante seguimento econômico infelizmente está sem planejamento, áreas no entorno da rodoviária estão carregadas de galerias comerciais que não obedecem a normas e parâmetros urbanísticos e nem de segurança dos seus usuários, tudo em nome do vil metal. Respeitemos nosso passado, nossa história, nossos valores e as idéias modernistas de seus idealizadores, pois assim iremos garantir uma identidade e a consciência de lugar no presente. Não somos apenas uma cidade comercial, temos muita história para contar, além de ainda ser reconhecida como a capital de melhor qualidade de vida do país.
Garibaldi Rizzo Arquiteto e Urbanista Presidente do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de Goiás. Conselheiro Titular do CAU-GO