A eleição de Sandro Mabel como prefeito de Goiânia foi marcada por promessas de mudança e esperança em tempos melhores para a capital goiana. Contudo, a realidade que o espera na administração pública é dura e urgente. Com um déficit fiscal colossal de R$ 1,5 bilhão, problemas estruturais históricos e uma relação política delicada com a Câmara Municipal, o prefeito eleito terá pouco tempo para ajustes antes de enfrentar a pressão popular e política.
Os desafios que Mabel herda não são novos. A crise na saúde pública, por exemplo, reflete anos de descaso e má gestão, agravados recentemente. Hospitais em situação precária, repasses atrasados e terceirizados à beira de paralisar serviços fundamentais são apenas a ponta do iceberg de um sistema que exige atenção imediata. O mesmo ocorre com a educação, onde os atrasos salariais têm sufocado professores e funcionários, comprometendo a qualidade do ensino público. Esses gargalos, se não forem enfrentados com rapidez e criatividade, têm o potencial de comprometer a credibilidade do novo prefeito logo nos primeiros meses de mandato.
Outro ponto crítico será a gestão política do orçamento municipal. Vereadores, antigos e novos, buscarão espaço para suas demandas, enquanto Mabel terá de fazer cortes severos para equilibrar as contas públicas. Isso exigirá uma habilidade política rara, capaz de conciliar interesses divergentes sem comprometer os objetivos maiores de sua gestão.
Há também o desafio de transformar promessas de campanha em realidade. As propostas de inovação urbana, como a implementação de calçadas permeáveis e a modernização da infraestrutura, terão que esperar enquanto Mabel enfrenta questões mais imediatas. Não se trata de abandonar um plano de governo visionário, mas de reconhecer que, no curto prazo, sua gestão será definida pela capacidade de apagar incêndios e evitar o colapso dos serviços essenciais.
O prefeito eleito, em sua campanha, apostou alto no simbolismo dos 100 dias, prometendo apresentar resultados concretos nesse período. Essa estratégia, embora poderosa do ponto de vista eleitoral, pode se voltar contra ele caso as expectativas criadas não sejam atendidas. É preciso reconhecer que 100 dias são insuficientes para resolver problemas tão enraizados quanto os de Goiânia. Mais prudente seria estabelecer metas realistas, priorizando transparência e diálogo com a população para gerenciar as inevitáveis frustrações iniciais.
Sandro Mabel tem a seu favor a experiência política e de gestão, além de uma base eleitoral sólida que confia em sua capacidade de entrega. No entanto, isso não será suficiente se ele não souber liderar com firmeza e habilidade em um cenário que exigirá cortes orçamentários impopulares, reorganização administrativa e articulação constante com a Câmara.
O sucesso de sua gestão dependerá, em grande medida, de sua capacidade de enfrentar os desafios fiscais com criatividade, estabelecer uma relação construtiva com o Legislativo e, ao mesmo tempo, oferecer à população sinais claros de que o governo está no caminho certo.