População colabora para mapeamento digital de espaços invisíveis em Goiânia

Quando a cidade cresce e a rotina fica mais corrida e individualista para quem vive nela, é comum deixarmos de apreciar espaços e elementos que compõem o território urbano coletivo. Diante desta percepção, o projeto Cidade (In)visível estimula o registro da localização de patrimônio arquitetônico art déco, árvores frutíferas, edificações abandonadas e arte urbana, em Goiânia, por meio de mapeamento digital. Com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás, a Sobreurbana realizou a etapa inicial do trabalho, que está disponível em website aberto à colaboração da população:www.goianiacidadeinvisivel.com.br .
Com o intuito de subsidiar o projeto comemorativo dos 84 anos de Goiânia, durante setembro e outubro deste ano, a Sobreurbana promoveu diversas oficinas gratuitas, uma delas destinada à criação de um Guia Colaborativo de Ruralidades Urbanas, com interesse na origem e no desenvolvimento de práticas de cultivo, criação de animais e apropriações vinculadas à população que sai do campo para residir na cidade. Além de outras quatro ações de formação em mapeamento digital com os temasVazios Urbanos, Arte Urbana, Cidade Comestível e Art Déco.
A concepção do projeto Cidade (In)visível parte do princípio de que só se tem afeto e cuidado por aquilo que se conhece. “Goiânia possui um importante patrimônio art déco, que boa parte da população desconhece, e o mapeamento é uma estratégia de sensibilização para a sua preservação”, comenta a arquiteta urbanista Carol Farias, cofundadora da Sobreurbana.
Também vão sendo invisibilizados na cidade os chamados “vazios urbanos”, áreas ou edificações inutilizadas ou subutilizadas que representam desperdício de espaço e infraestrutura. Para Carol Farias, são pontos deflagradores de violência urbana que precisam ser conhecidos para serem discutidos, apropriados e reconvertidos para alguma função social. “Em novembro de 2016, a Câmara Municipal de Goiânia aprovou, em primeira votação, lei que propõe que os vazios urbanos sejam destinados a projetos de Economia Criativa”, lembra.
Já a arte urbana cumpre o papel de dar vazão à voz e sentimentos da juventude, muitas vezes reprimida na sociedade. Goiânia possui um acervo respeitável de arte urbana, que elevou alguns de seus artistas ao reconhecimento internacional, como Kboco e Bicicleta sem Freio. No entanto, boa parte dessa arte, especialmente aquela ainda marginal, está disponível em becos e áreas de pequeno acesso.
Cidade comestível
O Museu Zoroastro Artiaga, localizado na Praça Cívica, está cercado de mangueiras. No Setor Universitário, tem cajueiro na Rua 227 e mamoeiro na 1ª Avenida. Jambo do Pará podem ser encontrados no Setor Bueno e Parque Amazonas. “Precisamos respeitar e valorizar a vegetação contida entre os espaços construídos. As árvores frutíferas são importantes elos de ligação entre as pessoas e essa natureza”, opina a arquiteta urbanista.
Para quem acessar o site, o mapa digital Cidade (In)visivel poderá se revelar como uma maneira interessante de reconhecimento de Goiânia. A ferramenta foi criada em código aberto para que possa ser livremente utilizada por qualquer pessoa. “O mapeamento vai se tornar cada vez mais atrativo à medida que os dados forem sendo publicados, a partir da colaboração de seus usuários. Este é o nosso desafio”, ressalta o jornalista André Gonçalves, cofundador da Sobreurbana.
Cartografia
Em parceria com pesquisadores do Indisciplinar, grupo de pesquisa vinculado ao CNPq e sediado na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, o Cidade (In)visível também capacitou estudantes, pesquisadores e profissionais para a elaboração da Cartografia Colaborativa para construção da Plataforma Urbanismo Biopolítico. “Um assunto bastante oportuno no momento em que Goiânia debate a operação urbana consorciada no Setor Pedro Ludovico e a revisão do Plano Diretor”, avalia a arquiteta urbanista Carol Farias, cofundadora da Sobreurbana.
No trabalho realizado ao longo de quatro dias, esta pesquisa foi estendida para Goiás, a partir de investigações inicialmente realizadas em Belo Horizonte. Na capital mineira está sendo cartografado o conjunto das diferentes forças políticas, econômicas, sociais, que constituem as disputas do território. Segundo Carol Faria, a Plataforma de Urbanismo Biopolítico é fundamental para organizar a informação existente, coletar a que não existe, e disponibilizar à população, empoderando o cidadão para o debate acerca da construção da sua cidade de forma ativa e esclarecida.
Cidade (In)visível: mapeamento colaborativo