Lançado na última quarta-feira (5), o Threads, aplicativo de mensagens instantâneas da empresa Meta – a mesma do Facebook e do Instagram – já ultrapassou a marca de 100 milhões de usuários, segundo o Threads Tracker da Quiver Quantitative. A nova plataforma da gigante da tecnologia, comandada pelo CEO Mark Zuckerberg, surgiu como uma rival para o tradicional Twitter. A grande novidade da rede social é a sua conexão com o Instagram, que já coleciona mais de 2 bilhões de usuários ativos. O Threads surge, contudo, sendo questionado por especialistas quanto à forma com que tratará as informações dos usuários, já que seus termos de uso apresentam pontos que vão de encontro às legislações atuais de proteção de dados.
O aplicativo não foi lançado na União Europeia (EU), por exemplo, conforme divulgou o jornal Valor Econômico, justamente porque as autoridades de proteção de dados dos países que compõem o bloco acreditam que a rede social não está pronta para respeitar as regras mais rígidas da UE. O advogado especialista em Direito Digital e Proteção de Dados Rafael Maciel explica que mesmo que o Threads tenha sido lançado no Brasil, o que supostamente afirmaria a conformidade do produto da Meta com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), há ainda pontos pouco transparentes nas políticas de privacidade que devem ser assinadas pelos usuários que se cadastram para utilizar os serviços.
“De acordo com os termos de uso da rede social, ao selecionar a opção para ter um perfil público, publicações e demais conteúdos no Threads podem ser vistos por qualquer pessoa, dentro ou fora dos produtos da Meta”, esclarece o advogado. Para Rafael, essa forma de tratamento de dados configuraria algo que ele chama de “institucionalização do Data Scraping”. “O Data Scraping é uma técnica computacional de coleta de dados de plataformas online, como sites, redes sociais, entre outros. Os dados são capturados a partir dos scripts que são gerados pelas páginas e programas, ‘raspando’ as informações que serão utilizadas em análises posteriores”, explica.
Rafael observa que, dessa forma, os dados poderão ser visualizados em todo o Fediverso – uma Federação de plataformas digitais de diferentes servidores, na qual os usuários podem interagir a partir de redes sociais distintas. “O que preocupa aqui é que, conforme está descrito, as informações dos usuários poderão ser vistas e coletadas nas outras plataformas desta Federação e não é porque a informação está pública que a empresa pode fazer o que bem entender”, avalia. Ele acrescenta: “Isso é um alerta aos usuários do Threads, que poderão ter informações acessadas de forma indiscriminada. Vale lembrar que essa forma de tratamento não está na política do Instagram”.
