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Gordofobia no jornalismo: o preconceito que as redações teimam em enxergar

Oi, eu me chamo Agnes e eu sou uma mulher gorda”.

Oi, eu me chamo Agnes e eu sou uma mulher gorda”.

É com essas palavras que costumo me apresentar quando me chamam para falar sobre a minha pesquisa. Não que quem me veja não identifique em mim, com 120Kg, uma gorda; mas é que quando a gente está nesse lugar, por maior que a gente seja, parece que menos as pessoas são capazes de nos enxergar… Como gente!

Tem sido assim a vida toda, mas o nome para isso eu descobri tem pouco tempo: GORDOFOBIA. Sim, esse preconceito que a gente sofre no trabalho, em casa, na rua, nos relacionamentos, do pai, das amigas, da turma da faculdade, do sistema de saúde, da indústria da moda, dentro do transporte público, no cinema, nos bares, ou seja, institucionalizado como todo bom preconceito é.

O grande lance da gordofobia talvez seja que quem sofre o preconceito, também se sente culpada. Pessoas gordas são acusadas de serem preguiçosas, desleixadas, sem força de vontade, amor-próprio, autocuidado, higiene… Só para citar por cima. E essas acusações vêm de todos os lugares, principalmente de quem não conhece a gente e tiram essas conclusões apenas por um diagnóstico visual: o tamanho de nossos corpos.

A opressão é tanta que não cabe nem o revide; a gente passa a fazer de um tudo para perder peso e, com isso, não sofrer a violência. O que pouca gente vê, no entanto, ou vê e prefere fingir que não enxerga, é que esses processos de emagrecimento são, na maioria das vezes, tão violentos quanto maléficos para a saúde, e quando alguém morre na mesa de cirurgia, por excesso de medicamentos ou desenvolvimento de uma série de transtornos, geral se finge de surpresa.

Entre tantas hipóteses testadas e comprovadas acerca da gordofobia, esse preconceito que, inclusive, mata, como vimos recentemente com o caso do jovem Vitor que morreu na porta de um hospital sem receber assistência médica por falta de maca que o acolhesse em seu corpo, uma delas nos diz bastante respeito: a forma como o jornalismo tem apresentado e coberto fatos que envolvem pessoas gordas. Sim, é preciso reconhecer: temos nossa parcela de responsabilidade nisso.

Ao longo de todos esses anos pesquisando a gordofobia como objeto de estudos no campo da comunicação, identifiquei como o jornalismo também pratica esse preconceito e, com isso, contribui para sua manutenção. Pior, pela credibilidade e alcance do ofício, ele acaba ainda por ampliar e expandir a gordofobia em sociedade.

“Mas Agnes, nós estamos apenas reportando o que nos é passado!”, já ouvi. Mas será que as pautas já não chegam enviesadas a partir de uma perspectiva de conhecimento dominante e que patologiza pessoas gordas apenas por serem gordas? Será que a escolha das fontes não exclui pessoas apenas por sua aparência, julgada até subconscientemente mesmo por causa do preconceito? Será que a a própria estrutura das redações que não contempla quem “não tem cara de jornalista” inclusive em atividades fora das câmeras… e por “cara de jornalista” vamos estender aí para “corpo” também?

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