Documentário difunde cultura quilombola a partir da história de Marta Kalunga
O documentário “Marta Kalunga” estreia nesta sexta (01/7), às 19 horas, em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros. Dirigido por Lucinete Morais, Marta Kalunga e Thaynara Rezende, o média-metragem foi realizado com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. Com abertura de exposição do artista Tainam Malta, apresentação de sussa kalunga e show da cantora Sistah Dani e da DJ Kaju, o evento inaugura a Casa Memória da Mulher Kalunga e dá início à campanha de financiamento coletivo para reforma e manutenção do novo espaço cultural.
ACESSE AQUI fotos e vídeos:
https://drive.google.com/drive/folders/1j2-xVG1WzOSnft4HXasNNk40wv-MSE2C?usp=sharing
https://www.youtube.com/watch?v=FHZ5LIqUedM
“Marta Kalunga” é uma narrativa etnobiográfica em que a protagonista é também diretora e roteirista da obra audiovisual. A partir do corpo-território de Marta, seu envolvimento com o tear, a dança, a valorização da memória e a preservação da cultura, o filme propõe um encontro com a história de muitas mulheres quilombolas kalungas.
O Vão de Almas é uma das áreas habitadas de Cerrado mais preservado da Chapada dos Veadeiros. Ali a eletricidade só chegou em 2017 e existem poucos indícios visíveis da “modernidade” neste território. Marta Kalunga nasceu neste lugar, em comunidade originalmente formada por negros que se organizaram em quilombos, no nordeste do estado de Goiás.
As famílias que vivem no Vão de Almas, assim como no Vão do Moleque, mantêm seu modo de vida tradicional, suas crenças e religião, suas formas de falar e agir, preservam seus saberes e fazeres. Em 1991, toda a área ocupada por esta comunidade foi reconhecida pelo Estado de Goiás como sítio histórico que abriga o patrimônio cultural Kalunga.
No final de 2020, a antropóloga Lucinete Morais chegou a Cavalcante e hospedou-se no Hostel Kalunga para cumprir o período de quarentena, antes de seguir para o Vão de Almas. Ela planejava etnografar a comunidade, sua trivialidade e também testar o roteiro do filme, codirigido pela fotógrafa Thaynara Rezende. “Não foi possível. Ainda sem a vacina, os Kalungas não aceitaram minha presença”, lembra ela.
Assim, o primeiro desafio da antropóloga foi repensar o campo de pesquisa. Os novos rumos para a realização do filme se apresentaram no próprio Hostel Kalunga ─ que tem Marta como proprietária. “Uma questão importante norteou o trabalho de seis meses de pesquisa: como contar a história de uma mulher e representar outras tantas”, comenta a antropóloga.
Parte da solução encontrada por Lucinete foi convidar a própria protagonista para colaborar na direção e no roteiro do filme. “Todos os trabalhos que faço são inspirados na minha cultura e no desejo de que toda a sabedoria das mulheres Kalungas seja valorizada, fortalecida e ampliada”, diz Marta Kalunga.
Para elas, horizontalizando assim as hierarquias cinematográficas, o filme foi se distanciando ainda mais da possibilidade de romantização da vida da mulher quilombola kalunga. O roteiro perpassa a história de Marta e seu cotidiano, buscando perceber o que há de tradicional e de contemporâneo em sua lida, seu corpo e modo de existir. “A obra foi conquistando liberdade à medida que entendemos qual deveria ser a narrativa, quem deveria narrar, o que narrar, como e para quem”, revela Thaynara. O filme será distribuído com legendas em três idiomas: inglês, espanhol e alemão.
Memória e geração de renda
A casa de Marta é também o Hostel Kalunga, lugar de acolhimento do povo Kalunga, em Cavalcante. Impactada pela pandemia, ela então concebeu esse espaço como um centro cultural, dedicado à memória, resgate e valorização da sabedoria de suas ancestrais. Uma das primeiras providências para isso foi a construção de uma palhoça kalunga para iniciar os trabalhos com tecelagem.
A Casa Memória da Mulher Kalunga surge ainda para estimular autonomia financeira, a partir da formação de redes produtivas. “Nós, mulheres, precisamos nos unir. Desde criança sinto indignação com as condições da mulher Kalunga, que trabalha tanto e não tem acesso à própria renda”.
A inauguração oficial da Casa Memória da Mulher Kalunga está marcada para a sexta-feira (1/7), a partir das 19 horas, com programação cultural que inclui o lançamento do filme “Marta Kalunga”, além de exposição de arte, apresentação de dança (sussa) e shows musicais. Veja abaixo a programação completa.
Neste mesmo dia, se inicia a campanha de financiamento coletivo (crowdfunding) para arrecadação de recursos financeiros destinados à adequação do espaço físico do hostel que está se tornando um centro cultural. A Casa Memória da Mulher Kalunga pretende realizar oficinas e cursos, intercâmbios culturais e eventos, além de instalar um pequeno empório para a comercialização de produtos como a tradicional paçoca kalunga, entre outros. As doações poderão ser feitas pelo site do Catarse: www.catarse.me/casa_memoria_da_mulher_kalunga
Programação
Programação:
Inauguração da Casa Memória da Mulher Calunga (Rua José Paulino da Silva ou Rua da palha, Qd. 26, Lt. 214, Centro, Cavalcante/GO)
19h – Abertura da Exposição Áfricas e Quilombos do artista Tainam Malta
20h- Exibição do Clipe Mulher Preta de Sistah Dani
20h30 – Estreia do filme “Marta Kalunga”
21h – Roda de conversa com as artistas Tainam Malta, Sistah Dani, Marta Kalunga, com mediação da DJ Kaju
21h30 – Apresentação de Sussa Kalunga
22h – Show com Sistah Dani e DJ Kaju
Ficha técnica_ filme “Marta Kalunga”
Realização:
Luppa criativa
Casa Memória da Mulher Kalunga
Direção: Marta Kalunga, Lucinete Morais e Thaynara Rezende
Pesquisa: Lucinete Morais
Roteiro: Marta Kalunga e Lucinete Morais
Produção Executiva: Lucinete Morais
Produção: Lucinete Morais e Marta Kalunga
Direção de fotografia: Thaynara Rezende, DAFB
Desenho de som: Marlúcio Rezende
Som direto: Thaynara Rezende, DAFB
Trilha sonora: Marlúcio Rezende
Música original : Josué do Cerrado
Preparadora corporal: Fernanda muniz
Montagem e finalização: Thaynara Rezende, DAFB
Arte gráfica e cartaz: Mariana Waechter
Distribuição: Thaynara Rezende Produções
Transcrição: Janaina Santa Cruz
Tradução inglês: Gabriel Stone
Tradução espanhol: Violeta Arvin Casoni
Tradução alemão: Stefan Kellner
Legendas: Thaynara Rezende, DAFB
Elenco
Marta Kalunga (protagonista)
Iáia Procópia – rezadeira e matriarca kalunga do Riachão/Monte Alegre de Goiás
Bia Kalunga – neta de Iáia Procópia e liderança comunitária
Henri (Indy) – Francês
Delcimar Borges (Cabeça) – dono do bar
Edezio Silva (Parceiro) – sanfoneiro
Romão Ferreira – zabumbeiro
SOBRE AS REALIZADORAS
Lucinete Morais é doutoranda e mestra em antropologia social, especialista em direitos sociais do campo e licenciada em história. Diretora proprietária da Luppa Criativa que é uma produtora de conteúdos a partir de pesquisas em antropologia. Dirigiu os curta-metragens documentários “Caminharte” (2022), “Devoção D’Abadiinha” (2020), “Os devotos de São Sebastião da Pedreira” (2018), “Alto Santana” (2018), “O demônio veio do céu” (2010) e trabalhou como assistente de direção e produção de figuração do longa-metragem de ficção “Fogaréu” (2019) e produção nos curtas “Cesius 13.7” de Beto Leão (2001) e “O grito das águas” de Barale Neto (2001).
Marta Kalunga é liderança Kalunga quilombola na cidade de Cavalcante/GO, idealizadora da Casa Memória da Mulher Kalunga, empreendedora no Hostel Kalunga, tecelã e guia de turismo.
Thaynara Rezende (DAFB, APAN) é graduada em Cinema e Audiovisual na Universidade Estadual de Goiás, há doze anos consolidada no mercado de fotografia, há seis dedica-se a Direção e Direção de Fotografia Cinematográfica. Assinou a fotografia de mais de doze obras e a direção de outras sete entre curtas-metragens, web-séries, videoclipes e documentários. Dessas obras recebeu mais de vinte premiações como Melhor Direção, Filme e/ou Fotografia. Também trabalha como Montadora, Operadora e Assistente de Câmera no mercado goiano. Atualmente, é membro do Coletivo de Mulheres e Pessoas Transgênero do Departamento de Fotografia do Cinema Brasileiro (DAFB); sócia da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC); sócia da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN); sócia fundadora e coordenadora do projeto FotoLab – Laboratório de Fotografia Cinematográfica.