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Campanha visa ampliar o debate sobre sintomas silenciosos e incentivar a busca por avaliação médica especializada

O mês de julho é marcado por uma importante campanha de saúde: o Julho Verde, voltado à conscientização sobre os cânceres de cabeça e pescoço — grupo de tumores que pode acometer boca, garganta, laringe, tireoide, cavidade nasal, entre outras regiões. A iniciativa foi criada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) e conta com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). A escolha do mês coincide com o Dia Mundial de Prevenção e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, celebrado em 27 de julho.

Apesar da gravidade e da abrangência, esses tipos de câncer ainda enfrentam baixa visibilidade nas campanhas de saúde, o que impacta diretamente na detecção precoce. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 80% dos casos diagnosticados no Brasil entre 2000 e 2017 foram identificados em estágios avançados — fator que reduz as chances de cura e dificulta o tratamento. A mesma pesquisa aponta uma relação direta entre o nível de escolaridade e o estadiamento da doença.

De acordo com a médica otorrinolaringologista Juliana Caixeta, o papel do otorrino é essencial desde a fase inicial da investigação clínica. “O diagnóstico pode ser feito por vários profissionais, mas o otorrinolaringologista participa diretamente de todo o processo, incluindo a reabilitação funcional, como voz e deglutição”, explica.

Para a especialista, dar visibilidade ao tema e ampliar o conhecimento da população sobre sintomas e fatores de risco é uma estratégia decisiva para o avanço no diagnóstico precoce, que pode garantir tratamentos menos invasivos e melhores prognósticos.

Sinais de alerta e fatores de risco

Entre os sintomas que merecem atenção, a médica cita caroços na cabeça e pescoço com crescimento progressivo e que não causam dor, além de rouquidão persistente por mais de 15 dias. As feridas, úlceras e aftas que não melhoram em 15-20 dias devem ser investigadas. “São sinais que não devem ser negligenciados. Quanto antes o diagnóstico for feito, maiores são as chances de cura”, afirma Juliana Caixeta.

Os tumores mais comuns atendidos na prática do otorrino incluem cânceres de pele e o carcinoma espinocelular de cavidade oral, orofaringe, laringe e tireoide. “O câncer de pele é o mais frequente, e costuma ter bom prognóstico quando descoberto precocemente. Já o prognóstico dos outros tipos histológicos dos tumores dessa região depende do tipo de célula acometida, do local e se o diagnóstico é inicial ou tardio”, pontua.

A médica alerta ainda para os principais fatores de risco, que envolvem idade acima de 55 anos, tabagismo, consumo excessivo de álcool, infecção por HPV, exposição solar, obesidade e histórico familiar de câncer. Também estão na lista pessoas que já foram expostas à altas doses de irradiação na região da cabeça e do pescoço.

Diagnóstico precoce ainda é desafio

A investigação de uma lesão suspeita envolve exames clínicos, biópsia e, em alguns casos, exames de imagem ou de medicina nuclear. Ainda de acordo com a médica, a maior frequência nos rastreamentos e a melhoria na acurácia dos exames têm contribuído para diagnósticos mais rápidos e intervenções menos invasivas.

Apesar disso, ela reconhece que o tema ainda enfrenta barreiras. “O câncer de cabeça e pescoço não tem a mesma visibilidade de outros tipos, como mama, próstata ou intestino. Por serem menos frequentes que esses outros locais de aparecimento, nem sempre têm a atenção necessária. As lesões nessa região muitas vezes comprometem funções essenciais e causam alterações na aparência do paciente. Isso faz com que muitos evitem falar sobre o assunto”, afirma Juliana Caixeta.

A campanha Julho Verde foi criada com o objetivo de ampliar esse debate, informar a população e incentivar a busca por avaliação médica ao menor sinal de alteração. “O diagnóstico precoce muda tudo. Ele não só aumenta a chance de cura como permite um tratamento menos agressivo e mais eficaz”, completa a otorrinolaringologista.

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