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“A violência não é só física”: audiência na Alego expõe dor e coragem de mulheres vítimas de feminicídio em Goiás

Em Goiás, 47,1% das mulheres mortas em homicídios dolosos foram vítimas de feminicídio, segundo dados nacionais. O estado ocupa a 13ª posição no ranking de feminicídios, com 1,5 mortes a cada 100 mil mulheres. Em 2024, o Ligue 180 registrou 18.232 atendimentos a mulheres goianas, aumento de 34,1% em relação a 2023, e as denúncias cresceram 26,9%, passando de 3.483 para 4.422 casos.

A Assembleia Legislativa de Goiás realizou, nesta segunda-feira (20), uma das audiências públicas mais emocionantes do ano. Sob a condução da deputada Dra. Zeli (União Brasil), procuradora especial da Mulher, o encontro reuniu autoridades, procuradoras municipais, familiares de vítimas e representantes de movimentos femininos para discutir a escalada da violência contra a mulher e os casos de feminicídio no estado.

De mãos dadas com a deputada federal Sylvie Alves (UB), Dra. Zeli abriu o evento com um desabafo contundente.

“Às vezes me pergunto se é a rapidez das redes sociais que nos traz tantas notícias de tragédias, ou se parece mesmo que tudo o que fazemos acaba, de alguma forma, incentivando mais violência. Este é o momento de nos unirmos, de nos fortalecermos e de entendermos o que é empatia umas com as outras — porque a violência não é só física”, disse a parlamentar, sob aplausos.

A deputada destacou ainda o papel essencial das procuradorias da mulher nos municípios, criadas para orientar, acolher e proteger mulheres em situação de vulnerabilidade.

“Essas procuradoras chegam onde o Estado não chega, nos bairros mais distantes, nas comunidades em que as mulheres não têm nem o dinheiro da passagem de ônibus para pedir ajuda. E, mesmo assim, elas sofrem violências sutis, silenciosas, que nos fortalecem ainda mais para continuar lutando”, completou Dra. Zeli.

A parlamentar defendeu punições mais severas para os agressores.

“O melhor caminho é o do rigor das leis. Isso foge das nossas mãos como deputadas estaduais, mas está nas mãos do Congresso Nacional, que pode e deve fazer as mudanças necessárias”, afirmou.

Dados alarmantes

Em Goiás, praticamente uma em cada duas mulheres vítimas de homicídio doloso (47,1%) foi assassinada por motivo de gênero, feminicídio. A taxa é de 1,5 feminicídios por 100 mil mulheres, colocando o estado na 13ª posição nacional, empatado com outras quatro unidades da federação.

Outro indicador reforça a gravidade do problema: o Ligue 180, canal nacional de denúncias, registrou 18.232 atendimentos em Goiás em 2024, um aumento de 34,1% em relação a 2023. As denúncias subiram 26,9%, saltando de 3.483 para 4.422 casos, segundo o Ministério das Mulheres. Do total, 3.853 foram feitas por telefone e 475 via WhatsApp.

Histórias que chocam e comovem

Durante a audiência, Roberto Campos, pai da advogada Jordana Fraga Martins David, morta em 2018 pelo ex-noivo em Itaberaí, emocionou o público ao cobrar justiça.

“São sete anos de dor. Quero acreditar na justiça dos homens, para que esse caso sirva de exemplo e salve outras mulheres”, declarou.

A plateia também se comoveu com o relato de Railma Lisboa da Silva, 27 anos, que sobreviveu a uma tentativa de feminicídio após ser atacada pelo ex-companheiro.

“Ele me esperou na rua, bateu na moto em que eu estava e me golpeou com um facão. Perdi parte do braço e da mão. Sobrevivi por milagre”, contou, em lágrimas.

Outros casos, como o da adolescente Amélia Vitória, estuprada e morta em Aparecida de Goiânia, e o da servidora pública Nádia Gonçalves de Aguiar, assassinada pelo namorado em Bela Vista de Goiás, também foram lembrados.

Rede de empatia e ação

Ao final do encontro, Dra. Zeli reforçou o compromisso da Procuradoria Especial da Mulher da Alego em fortalecer a rede de proteção e ampliar a interiorização das procuradorias municipais.

“Nenhuma mulher pode se sentir sozinha. Nossa missão é garantir que cada uma delas saiba que tem onde buscar apoio, proteção e justiça”, concluiu.

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