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Restauração polêmica em imagem sacra de Pirenópolis revolta fiéis e leva Iphan a cobrar explicações

A escultura, que ocupa lugar de destaque na igreja de Nossa Senhora do Rosário, é tradicionalmente reconhecida pela expressão de dor profunda

A tentativa de restaurar uma das imagens sacras mais emblemáticas do Centro-Oeste brasileiro gerou polêmica e indignação em Pirenópolis, cidade histórica no interior de Goiás. A imagem de Nossa Senhora das Dores, datada do século XVIII e tombada como patrimônio nacional, passou por uma intervenção que alterou significativamente suas feições originais. Fiéis e especialistas reagiram com perplexidade, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirmou que não autorizou a restauração, cobrando explicações formais da Diocese de Anápolis, responsável pela paróquia.

A escultura, que ocupa lugar de destaque na igreja de Nossa Senhora do Rosário, é tradicionalmente reconhecida pela expressão de dor profunda – lágrimas que escorrem pelo rosto e feições marcadas pelo sofrimento. Após a intervenção, no entanto, a santa ganhou bochechas rosadas, lábios realçados por um tom semelhante ao batom, cílios delineados e perdeu a expressão original de tristeza. Para muitos devotos, a mudança descaracterizou a simbologia da imagem.

“Ela está sem lágrima, sem a feição de sofrimento. Está praticamente maquiada, com cílios e blush. É a mãe de Jesus. Essa imagem toca o coração da gente, principalmente nessa época de Semana Santa”, lamentou a devota Helena Cristina de Pina.

Comparações entre fotos tiradas antes e depois da intervenção mostram diferenças marcantes. Além da mudança no rosto, a coloração das mãos também foi alterada – antes com tons mais escurecidos e sombreados, agora aparecem mais claras e sem detalhes de profundidade.

Ronaldo Félix, jornalista e devoto, também questionou a técnica utilizada na pintura. “As imagens antigas são policromadas, ou seja, pintadas com várias camadas de cor para dar volume e realismo. O que fizeram foi aplicar uma tinta simples, de cor única. Isso compromete completamente a originalidade da peça”, explicou.

Diante da repercussão, o Iphan confirmou que não houve solicitação prévia para a restauração da escultura, o que é obrigatório em se tratando de patrimônio protegido. O órgão encaminhou um ofício à Diocese de Anápolis e aguarda resposta com informações detalhadas sobre a autoria, a motivação e os métodos usados na intervenção.

Enquanto isso, o debate segue entre a preservação do patrimônio histórico e religioso e a responsabilidade técnica em ações de restauração. O caso reacende a discussão sobre a importância de critérios rigorosos e transparência em intervenções que envolvem bens culturais de valor simbólico e afetivo para a comunidade.

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