Câmara de Goiânia em busca de renovação
Apesar do aumento no número de cadeiras na Câmara Municipal de Goiânia, a tão esperada renovação pode ser mais superficial do que parece, com antigos políticos e herdeiros familiares dominando o cenário
As eleições de 2024 prometem mudanças significativas na composição da Câmara Municipal de Goiânia, mas a verdadeira renovação ainda é um tema nebuloso. Com o aumento do número de cadeiras de 35 para 39, muitos especulam que o cenário político poderia abrir espaço para novos rostos e ideias. No entanto, essa perspectiva pode ser mais ilusória do que parece.
A tendência histórica em Goiânia revela um desejo por renovação, com taxas de mudança que variam entre 50% e 60%. Esse percentual, contudo, nem sempre representa uma verdadeira atualização do Legislativo Municipal. A ampliação das vagas pode, paradoxalmente, facilitar a volta de antigos políticos e a inserção de herdeiros políticos, filhos de figuras tradicionais, que tendem a perpetuar as mesmas ideias e práticas que já conhecemos.
O aumento no número de cadeiras pode parecer uma oportunidade para a inclusão de novos players no cenário político. Todavia, há um lado negativo nessa equação: a possibilidade de que as “novas” figuras sejam, na realidade, políticos já conhecidos do eleitorado, que estão retornando após períodos fora do mandato. Isso sugere que a mudança pode ocorrer mais em termos de nomes do que em ideologias ou propostas inovadoras. A renovação, portanto, não seria de fato uma transformação do status quo, mas uma reconfiguração de velhas forças políticas.
As dinâmicas partidárias também desempenham um papel crucial nesse contexto. Com as recentes mudanças nas regras eleitorais, como a implementação das federações partidárias e a fusão de partidos menores que perderam o fundo partidário, o jogo eleitoral tornou-se ainda mais complexo. Esses rearranjos podem impactar diretamente na eleição de vereadores, afetando a formação de coligações e, consequentemente, as chances de sucesso dos candidatos.
Outro ponto importante é a natureza altamente fragmentada das eleições para a Câmara Municipal, onde um grande número de candidatos compete por um número limitado de cadeiras. Nesse cenário, o “voto de bairro” ganha destaque, reforçando a importância de uma conexão direta e pessoal entre o candidato e sua base eleitoral. Aqueles que não compreendem bem o perfil de seu eleitorado correm o risco de dispersar seus esforços e, consequentemente, não alcançar o sucesso desejado.
Diante desse cenário, a renovação na Câmara Municipal de Goiânia parece ser mais simbólica do que real. Mesmo com novas cadeiras e a expectativa de mudanças, a política municipal pode continuar sendo dominada por figuras conhecidas e seus sucessores, o que coloca em xeque a verdadeira atualização do legislativo. Assim, embora a palavra “renovação” seja amplamente utilizada, é necessário questionar até que ponto ela refletirá uma mudança concreta na política local, ou se será apenas uma nova versão do que já existe.