Ronco e apneia do sono: um alerta para a saúde vascular cerebral em adultos e crianças
Especialista alerta para os riscos do ronco e apneia do sono, que podem levar a problemas como AVC, dificuldades de aprendizagem e até atraso no crescimento infantil

O ronco, muitas vezes visto como um incômodo passageiro, pode ser um sinal de alerta para problemas de saúde graves, tanto em adultos quanto em crianças. De acordo com a otorrinolaringologista da Hapvida NotreDame Intermédica, Ana Karolina Rocha, o roncar nunca é normal, especialmente quando acompanhado de paradas respiratórias, conhecidas como apneia do sono. “Essa condição está diretamente ligada a riscos vasculares cerebrais, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC), além de impactar a qualidade de vida e o desenvolvimento infantil”, alerta.
De acordo com a especialista, o ronco, quando associado à apneia do sono, pode desencadear uma série de complicações. Nos adultos, os principais riscos incluem: AVC, que é a interrupção da respiração durante o sono reduz a oxigenação do cérebro, aumentando o risco de derrames; hipertensão e arritmias, já que a apneia do sono está diretamente ligada ao aumento da pressão arterial e a problemas cardíacos; e sonolência diurna e irritabilidade, relacionada diretamente à má qualidade do sono, afeta o humor e a produtividade, podendo levar a acidentes e queda no desempenho profissional.
Já em crianças, os efeitos são ainda mais preocupantes, afirma Ana Karolina. Dentre os problemas vinculados, destaque para: dificuldades de aprendizagem, ocasionada pela falta de sono reparador o qual prejudica a concentração e o desempenho escolar; atraso no crescimento, já que a apneia do sono pode interferir na produção de hormônios essenciais para o desenvolvimento físico; e alterações faciais e dentárias, provocadas por problemas respiratórios crônicos que podem levar a mudanças na arcada dentária e na estrutura facial.
A importância do diagnóstico precoce
Rocha reforça a importância de buscar uma avaliação especializada. “É crucial diferenciar o ronco primário, que não causa maiores problemas, da apneia do sono, que exige tratamento imediato”, explica. O diagnóstico precoce pode prevenir complicações graves, como AVC e atrasos no desenvolvimento infantil, reforça a especialista.
“O ronco e a apneia do sono são mais do que um incômodo; são sinais de alerta para problemas de saúde sérios. A conscientização e o tratamento adequado são essenciais para garantir uma vida saudável e produtiva. Se você ou seu filho apresentam esse sintoma, não ignore. Procure um especialista e garanta uma avaliação completa. Sua saúde e bem-estar dependem disso”, completa a especialista.
Estatísticas
Crianças de cinco a sete anos que dormem menos de seis horas diárias têm maior risco de apresentar dificuldades cognitivas, alterações comportamentais, doenças cardíacas e obesidade, segundo estudo de 2023 da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. A pesquisa, realizada com 199 estudantes de escolas públicas e particulares de São Paulo e Fortaleza (CE), também aponta que a privação de sono combinada ao acúmulo de gordura corporal pode desencadear processos inflamatórios no organismo.
O trabalho utilizou como base as diretrizes de duração de sono por idade estabelecidas pela National Sleep Foundation, entidade norte-americana sem fins lucrativos dedicada à conscientização sobre distúrbios do sono. Os resultados reforçam a importância do descanso adequado na infância para prevenir complicações de saúde a curto e longo prazo.
Dados globais e nacionais mostram que os distúrbios do sono são um problema crescente:
• Prevalência de apneia do sono: estima-se que 25 milhões de adultos nos EUA sofram de apneia obstrutiva do sono, com números semelhantes no Brasil.
• Impacto na infância: entre 1% e 5% das crianças têm apneia do sono, muitas vezes não diagnosticada.
• Sono insuficiente: no Brasil, mais de 50% das crianças dormem menos do que o recomendado para sua idade, o que agrava os riscos de distúrbios respiratórios.
• Consequências na saúde mental: a falta de sono está associada a um aumento de 40% no risco de ansiedade e depressão em adultos.