Desigualdade social é um dos fatores que contribuem para o agravamento da epidemia de Aids no Brasil e no mundo
O dia 1º de dezembro foi designado como o Dia Mundial de Combate à AIDS, hoje ampliado para todo o mês de dezembro, chamado de “Dezembro Vermelho”. A data é voltada para lembrar as pessoas sobre a profilaxia da infecção e apoio às envolvidas na melhora da compreensão dessa infecção como um problema de saúde pública global.
O novo relatório do Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) mostrou que o aumento das desigualdades e das restrições financeiras têm agravado o enfrentamento da epidemia de Aids no Brasil e no mundo, permitindo que um maior número de pessoas evoluem da fase assintomática para a fase sintomática. Isto torna mais difícil o cumprimento da meta para que a doença deixe de representar uma ameaça à saúde pública até 2030.
No Brasil a população negra é mais atingida, segundo dados Ministério da Saúde entre 2010 e 2010 houve uma queda de 9,8% na proporção de casos de Aids entre as pessoas brancas. Já entre os negros, houve um aumento 12,9%.
O Dr. Geraldo Duarte, Presidente da Comissão Nacional Especializada de Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que a Aids é causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), possuindo várias formas de transmissão, as quais podem ser agrupadas em três grandes categorias de exposição. A primeira é a exposição sexual, independente da manifestação da sexualidade (homossexual, heterossexual ou bissexual). A segunda considera a exposição parenteral ou de mucosas a sangue/hemoderivados, instrumentos e tecidos contaminados pelo vírus. A terceira é representada pela transmissão perinatal, a qual pode ocorrer pela via transplacentária, durante o parto ou por meio da amamentação.
“De forma geral as minorias são mais expostas ao risco de se infectar pelo HIV por vários motivos, destacando basicamente acessos limitados à informação e aos cuidados profiláticos e terapêuticos. A combinação destes dois fatores eterniza as exposições de risco, o primeiro passo para aumentar as taxas da infecção neste segmento populacional” destaca o ginecologista.
Sintomas
Sobre os sintomas, o médico da Febrasgo esclarece que a infecção pelo HIV se manifesta por fases. “Na fase aguda da infecção são poucos os casos que apresentam sintomas e quando ocorrem, são inespecíficos. Considera-se que sejam compatíveis com o que se chama de síndrome mononucleose-like, com febre baixa, gânglios aumentados e mal-estar. A fase seguinte é assintomática, assim vivendo por tempo variável de uma pessoa para outra. Com o aumento da carga viral e declínio dos linfócitos T-CD4, a pessoa infectada começa a apresentar sinais e sintomas de Aids. A linfoadenomegalia (aumento de volume dos linfonodos) generalizada e persistente, acompanhada de perda discreta de peso, caracteriza o início da fase sintomática da doença na grande maioria dos casos” enfatiza Geraldo.
Com o tempo e, se não tratada, a doença evolui para estágios de maior gravidade. Dentre as manifestações clínicas mais comuns em pacientes nos estágios mais avançados da infecção (Aids) observa-se o emagrecimento intenso, fadiga, presença de infecções oportunistas, sudorese noturna e diarréia. A presença de úlceras aftosas bucais e de orofaringe, sinusopatia, leucoplasia pilosa oral e infecções herpéticas também são frequentes, mas não são tão constantes quanto aquelas citadas anteriormente. Felizmente, o sarcoma de Kaposi é raro entre mulheres.
Prevenção
A prevenção da infecção pelo HIV entre adultos é um passo fundamental no controle da infecção. Resumindo, pode-se afirmar que a chave que abre o processo da prevenção começa com a informação e a consciência de nossa vulnerabilidade quanto aos hábitos considerados de maior risco. Dentre eles, destaque especial deve ser dado ao risco de uso comunitário de drogas injetáveis e à exposição sexual (nas suas várias formas de expressão) sem proteção. Hoje, além da proteção com os preservativos (masculino e feminino), existe a profilaxia utilizando medicamentos antirretrovirais, denominadas de “profilaxia pré-exposição (PrEP)” e a “profilaxia pós-exposição (PEP)”. Para a profilaxia da transmissão vertical é necessário que a gestante se cuide para não infectar, podendo utilizar os mesmos recursos já citados. Uma vez portadora do vírus, existem protocolos específicos de uso de medicações antirretrovirais cujo objetivo é reduzir a carga viral deixando-a indetectável.
“Hoje já existem drogas injetáveis de longa ação, com ação que pode durar até dois meses, facilitando muito a adesão tanto para a profilaxia quanto para o tratamento”, diz Dr. Geraldo.
Tratamento
O tratamento da infecção pelo HIV é feito à base de antirretrovirais, alertando que, do ponto de vista prático, ainda não há cura para esta doença. Os relatos de cura são raros e demandam outras intervenções terapêuticas. O esquema antirretroviral mais utilizado atualmente é a combinação tríplice, associando dois inibidores da enzima transcriptase reversa (tenofovir e lamivudina) com um inibidor da enzima integrase (dolutegravir).