Advogado de Quirinópolis diz que OAB-GO esqueceu o interior
Com apenas três anos de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de Goiás (OAB-GO), e militante no interior, mais especificamente na cidade de Quirinópolis, distante 291 quilômetros da capital, o advogado Sandro Lopes se sente duplamente traído pelo presidente Lúcio Flávio Siqueira de Paiva: uma porque, segundo afirma, na época de sua campanha em 2015, o atual presidente da OAB-GO esteve naquela cidade para assegurar que criaria estruturas e projetos específicos para auxiliar o advogado em início de carreira, e outra porque, na mesma ocasião, prometeu voltar a atenção para as necessidades das subseções, o que também não ocorreu.
“Me lembro como se fosse hoje do dia em que eu e um grupo de advogados da nossa cidade fomos apresentados a ele. Na ocasião, falamos que as subseções são sempre deixadas de lado, lembradas apenas em época de eleições e, posteriormente, esquecidas. Ele disse que poderíamos ficar tranquilos e ter certeza de que com ele não seria assim. Mas foi.”
De acordo com Sandro, depois de eleito Lúcio Flávio só voltou a Quirinópolis em duas ocasiões, ao longo dos últimos três anos de sua gestão: logo no início, para fazer a entrega de alguns móveis e computadores para a subseção – ocasião em que fez com que fosse afixada uma placa com seu nome na sede; e na última semana, para participar do Baile do Rubi. “E mesmo assim ficamos sabendo que só veio porque ficou sabendo que seu oponente, Pedro Paulo de Medeiros, estaria presente na festa”, assegura.
Sandro se lembra de, durante uma entrevista com Lúcio Flávio, em uma rádio local, pedi-lo para regionalizar as solenidades de entrega de carteiras profissionais, o que também jamais aconteceu. “É uma cerimônia importante, em que o profissional entra nos quadros da Ordem. Pais, mães outros familiares e amigos querem ir, prestigiar a pessoa e, no caso do interior, isso é muito difícil porque nem todo mundo tem condição de ir para Goiânia”, explica.
O advogado também lamenta a inação da atual gestão com relação ao despreparo dos advogados em início de carreira. “Cabe à OAB-GO criar estruturas, projetos e outras iniciativas de acolhimento desse pessoal, que sai praticamete cru da faculdade de Direito. Tem advogado que acabou de receber sua carteira profissional e não sabe o que é certificado digital, Projudi, PJE. Não sabe quem é o escrivão, não sabe que o juiz pode atendê-lo. Porque a Seccional não se encarrega de criar mecanismos para familiarizar o jovem advogado na rotina da advocacia?”.
Outra reclamação de Sandro Lopes diz respeito ao pagamento dos advogados dativos. Segundo explica, a maioria dos advogados do interior do Estado tem uma considerável parte de seu trabalho voltada para a advocacia dativa e, no entanto, chega a esperar em média 5 ou 6 anos para receber pelo trabalho. “Na capital é tranquilo, porque já existe a Defensoria Pública. Mas no interior cai tudo para gente. Em parte gostamos, porque queremos trabalhar, é claro, mas a demora no pagamento desestimula muito e, até onde vejo, a OAB-GO não se movimenta para mudar essa realidade”.
Sandro Lopes também lamenta a ausência de projetos para o interior. Para ele, a OAB-GO tinha de criar mecanismos para que os advogados do interior pudessem, efetivamente, ter acesso aos mesmos serviços da capital. “Trocar móvel, colocar computador é obrigação óbvia. O que queríamos é, dando um exemplo muito simples, que nosso plano odontológico pudesse ser feito aqui. Que, assim como na capital, os advogados pudessem contar com reservas nos estacionamentos dos fóruns. E também que a Seccional assumisse a briga contra a captação ilegal de clientes e eventuais problemas com a magistratura ou o Ministério Público, de modo a nos proteger, evitar desgastes entre nós e os colegas, ou entre nós e juízes ou promotores da comarca. Lúcio Flávio prometeu, nesse sentido, criar a figura de um procurador da OAB-GO, que atuaria nessas situações. E, mais uma vez, não fez nada a respeito”.
O advogado também cita o recente mal estar instalado entre a OAB-GO e a Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego), em virtude da forma como Lúcio Flávio conduziu o posicionamento da instituição, contrária à concessão de licença-prêmio aos juízes. “Ele não teve diplomacia, não teve habilidade no momento de externar o entendimento da OAB-GO e, com isso, criou uma indisposição dos juízes para com a advocacia”.