A recente aprovação de um empréstimo de R$ 372 milhões para a Prefeitura de Goiânia, parte de um valor total autorizado de R$ 710 milhões, levanta questões importantes sobre a gestão pública e as implicações para a próxima administração, especialmente em um contexto onde o atual prefeito, Rogério Cruz (SD), enfrenta baixas chances de reeleição.
A liberação dos recursos, formalizada através de um despacho publicado no Diário Oficial da União e rapidamente retificada no Diário Oficial do Município, revela a pressão e a urgência com que o Paço Municipal se moveu para garantir esse montante antes do término do mandato. Embora seja positivo que a cidade tenha acesso a recursos significativos para investimentos necessários, é preciso considerar os possíveis desdobramentos dessa operação para a futura gestão.
Rogério Cruz, ciente de sua fragilidade nas pesquisas eleitorais, parece ter apostado nessa manobra como um último esforço para impulsionar seu governo, deixando, no entanto, um fardo significativo para seu sucessor. Em situações como essa, onde um governo está à beira de deixar o poder, a tomada de decisões de longo prazo, especialmente envolvendo empréstimos de grande porte, deveria ser meticulosamente avaliada.
A obtenção de um empréstimo com garantia da União traz consigo condições vantajosas, é verdade, mas também impõe obrigações que podem ser pesadas para a administração seguinte. Caso o próximo prefeito, seja ele Cruz ou não, não consiga manter o equilíbrio fiscal necessário, o município pode enfrentar dificuldades financeiras agravadas pelo compromisso de pagar esse montante.
Além disso, a justificativa da Secretaria Municipal de Finanças de que a publicação é uma “etapa conclusiva e crucial para que os recursos sejam aplicados ainda neste ano” não diminui a preocupação com o timing dessa operação. Fica evidente que a atual gestão busca acelerar o uso desses recursos, possivelmente em ações que podem servir como vitrines eleitorais, mas cuja conclusão e efetividade podem não estar asseguradas em tempo hábil.
Para a população e para os analistas, fica a reflexão sobre o verdadeiro impacto desse empréstimo. Se, por um lado, ele pode significar melhorias imediatas em infraestrutura e serviços, por outro, pode também representar um risco fiscal significativo, amarrando as mãos da futura gestão e comprometendo sua capacidade de investimento e governabilidade.
Em última análise, o episódio sublinha a importância de uma transição de governo responsável, onde o foco deve estar no bem-estar a longo prazo da cidade, e não em manobras que visam apenas ganhos de curto prazo, principalmente em um cenário eleitoral desfavorável. A transparência, o planejamento e a cautela são fundamentais para que Goiânia não pague um preço alto por decisões tomadas “ao apagar das luzes” de um mandato incerto.