A intolerância de candidatos com a imprensa e a justiça é um alerta para a democracia
Em vez de construir uma trajetória ilibada, alguns candidatos preferem atacar a imprensa e descredibilizar instituições fundamentais como o Ministério Público, revelando um desprezo alarmante pelos pilares da democracia
Em períodos eleitorais, o discurso dos candidatos ganha atenção redobrada. É o momento em que figuras públicas se apresentam como defensores da democracia, da transparência e dos valores republicanos. Contudo, uma tendência preocupante tem emergido nas últimas campanhas: candidatos que se autodenominam democratas, mas que preferem criticar e intimidar a imprensa, além de atacar instituições como o Ministério Público e o Poder Judiciário, ao invés de trabalhar por uma trajetória ilibada e um currículo livre de manchas.
“A liberdade de imprensa não é um privilégio dos jornalistas, mas um direito dos cidadãos”, disse Thomas Jefferson. A liberdade de imprensa é um dos pilares mais sólidos de qualquer democracia que se preze. Ela é essencial para garantir que a sociedade esteja informada e que o poder público seja constantemente vigiado. No entanto, candidatos que têm em suas histórias atos suspeitos e processos investigativos, em vez de confrontarem essas questões de forma transparente, optam por desqualificar aqueles que cumprem seu papel de informar. Não são raras às vezes em que jornalistas são acusados de “perseguição” ou de estarem a serviço de interesses obscuros, numa clara tentativa de desviar o foco de suas próprias condutas questionáveis.
Essa estratégia de intimidação e de descredibilização não se limita à imprensa. Instituições como o Ministério Público, responsáveis por investigar e denunciar irregularidades, também são alvo de ataques constantes. Em um movimento que beira o cinismo, candidatos sob investigação pública se apresentam como vítimas do um sistema judicial e da imprensa livre. O que eles ignoram – ou preferem que o eleitor ignore – é que essas instituições são fundamentais para a manutenção da democracia, exatamente por seu papel de vigilância sobre aqueles que ocupam cargos públicos.
A justiça e o Ministério Público têm demonstrado, dia após dia, ser verdadeiros pilares da democracia. Seja pela atuação firme na apuração de crimes de corrupção, seja pelo zelo no cumprimento das leis, essas instituições desempenham um papel crucial na garantia de que os agentes públicos sejam responsabilizados por seus atos. E é exatamente por essa razão que se tornam alvo de ataques durante períodos eleitorais. Candidatos que têm algo a esconder preferem desqualificar o trabalho dessas instituições, tentando gerar um clima de desconfiança que os favoreça, ao invés de se submeterem ao escrutínio público.
É fundamental que o eleitor fique atento a essas atitudes. Candidatos que desrespeitam a imprensa e atacam instituições judiciais durante a campanha, revelam um traço perigoso de sua personalidade política: o autoritarismo. Se, como candidatos, já demonstram desprezo por esses pilares da democracia, o que esperar de sua postura caso vençam as eleições e ocupem cargos de poder? A tentativa de descredibilizar o trabalho da imprensa e das instituições judiciais não é apenas uma estratégia de campanha, mas uma prévia do que pode vir a ser um governo marcado pelo desrespeito às liberdades fundamentais e pela perseguição a qualquer voz dissidente.
O cenário eleitoral nas disputas municipais é o campo perfeito para observar essas práticas. Em cidades menores, onde o controle sobre a narrativa é mais fácil e o acesso à informação é mais restrito, o perigo dessas táticas é ainda maior. Candidatos que se sentem ameaçados pela fiscalização pública tendem a intensificar suas críticas, criando um ambiente de medo e de insegurança jurídica que desmotiva a participação cidadã e enfraquece a democracia local.