Durante um longo período, o ensino no Brasil cometeu um equívoco. O conhecimento sobre nossas raízes e identidades ficou de lado. Com isso, crescemos com uma perspectiva eurocêntrica, na qual a nossa história foi contada através do ponto de vista, dos parâmetros e da influência europeia. O que resultou em uma construção distorcida da identidade sociocultural e, ainda, conjecturas históricas repletas de controvérsias e lacunas.
É por meio da mobilização de diferentes setores da sociedade que essa realidade vem sendo transformada ao longo dos anos. Um marco muito importante, celebrado neste ano de 2023, são os 20 anos da Lei n° 10.639, responsável por instituir a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana no Brasil. Ademais, há 15 anos, foi criada a Lei n°11.645 que complementou a última por meio da inserção do ensino sobre a cultura dos povos indígenas. Desde então, as escolas brasileiras precisam inserir em seus currículos, de forma transversal, o estudo sobre essas temáticas.
Basear toda a história, cultura e identidade do Brasil nos parâmetros da Europa ocidental, somente leva a ignorar as demais culturas e povos, principalmente os africanos e originários das Américas, que contribuíram fundamentalmente para a formação da sociedade, da cultura e da identidade brasileira.
Anualmente, o Elite Rede de Ensino realiza um Projeto Artístico conhecido como Vernissage, com o objetivo de valorizar a criatividade, a autonomia e a capacidade de interpretação dos alunos através de pinturas de telas. A Vernissage de 2023 terá como tema “Brasil, origens e heranças: um olhar sobre nossas profundas raízes culturais”.
Por intermédio de aulas expositivas, o estudante conhecerá mais a fundo a arte e cultura dos povos originários brasileiros e africanos, assim como os seus desdobramentos e influências. A partir de um pensamento de produção contemporâneo e alusão a artistas atuais que se debruçam sobre esta temática, o jovem deverá, com o seu olhar e compreensão, desenvolver um trabalho artístico capaz de dialogar com o assunto e enaltecer essas raízes do Brasil, gerando uma produção não apenas com fins estéticos, mas também com pensamento crítico. Algumas referências artísticas como, Georgia Lobo, Denilson Baniwa, Robinho Santana e Daiara Tukano serão o eixo condutor da atividade.
Contribuição para a diminuição das discriminações raciais e sociais
O coordenador do Ensino Fundamental Anos Finais da escola, Lucas Vieira, destaca a importância do conhecimento sobre os povos africanos e os povos originários das Américas. “Acreditamos que reconhecê-los como formadores ativos da identidade cultural brasileira é essencial, ao passo que contribui para a diminuição das discriminações raciais e sociais atreladas a esses grupos culturais. A arte atua com questões estéticas e sensíveis, portanto se torna uma grande aliada na compreensão das diversidades e pluralidades de culturas existentes na formação das identidades do povo brasileiro”.
Vieira aponta a relevância do estudante encontrar a sua própria história. “Além da base indígena e africana, temos a cultura latina como resultado da junção desses diversos elementos que se constituíram nas Américas e, de igual modo, nos pertencem. Contudo, no geral, nós não nos enxergarmos desta maneira, sendo a principal consequência dessa perda de referencial a falta de orgulho e respeito pelo que é nosso, sempre achando mais belo e digno o que vem de fora. A reconexão com as raízes permite compreender o significado de pertencimento e de legado. O principal benefício da inclusão dos temas no currículo é o encontro dos alunos com a sua própria história”.