Construção civil supera dificuldades da pandemia e gera novas vagas de trabalho
A crise desencadeada pela pandemia do novo coronavírus comprometeu diversos setores da economia e gerou uma onda de desemprego sem precedentes no Brasil, atingindo 14,3 milhões de pessoas, de acordo com o levantamento mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período de março de 2020 a março de 2021, o número de desempregados teve acréscimo de 2,4 milhões de brasileiros. No entanto, o setor da construção civil foge dessa tendência e apresenta resultados positivos e surpreendentes.
Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a construção civil registrou aproximadamente 157 mil novos postos de trabalho no ano passado, figurando como setor que mais contratou no Brasil. Em Goiás, o saldo foi de 6.252 novas vagas, colocando o setor como segundo no ranking de contratações, atrás apenas da indústria, que teve saldo de 10.296 empregos. A previsão é de que a construção civil continue aquecida em todo o país, com a expectativa de geração de mais de 200 mil novas vagas ao longo de 2021, de acordo com estimativas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Para Leonardo Menezes, coordenador da obra do World Trade Center (WTC) Goiânia, da Consciente Construtora, o fato de o mercado da construção civil trabalhar com contratos de longa duração contribuiu para que o setor se mantivesse estável durante o período mais crítico da pandemia. Ao todo, no ano de 2020 a Consciente contratou 254 pessoas, entre as obras do WTC e do Gaia Consciente Home, mais equipe administrativa. Somente no WTC Goiânia, foram contratadas 93 pessoas. Para manter o cronograma e os prazos de entrega, a empresa acabou de contratar, neste mês de abril, 30 profissionais para a obra do WTC em Goiânia, entre carpinteiros, armadores, pedreiros e serventes.
“Os contratos que já estavam planejados tiveram continuidade. Por causa dos decretos de isolamento social, tivemos que fazer algumas adaptações, mas as contratações foram mantidas. Além disso, o cenário mundial de juros baixos também facilitou o investimento em imóveis por parte dos clientes. Tudo isso contribuiu para esse bom momento da construção civil”, afirma Leonardo.
O gestor de vendas do WTC Goiânia, especialista imobiliário Marcos Henrique Santos, observa que a empregabilidade em alta é resultado do volume de lançamentos em 2020, que em Goiânia cresceram 17% de acordo com dados da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-GO). “As obras estão iniciando e esse processo se continuará com um bom ritmo de lançamentos previstos para este ano”, diz.
Outro fator que favoreceu o aquecimento do setor imobiliário é o fato de o Estado ser destaque no agronegócio, que tem passado por uma escalada positiva de produtividade e alta nos preços. “Não só a cadeia do agronegócio é favorecida, mas os outros setores também tornam-se aquecidos, o que inclui a compra e venda de imóveis”, observa o especialista.
Canteiro de oportunidades
Especializada no segmento de recrutamento e seleção, a psicóloga Cristiane Matias Ribeiro Araújo, da Examecon e Dinâmica, afirma que se surpreendeu com o ritmo de contratações para o mercado da construção civil. Segundo ela, que trabalha com diferentes perfis de empresas, a construção civil conseguiu evitar demissões durante a pandemia e também gerou novas vagas em ritmo aquecido ao longo de 2020, enquanto contratantes de outros setores, como educação e serviços, precisaram demitir em vez de contratar.
As contratações no mercado da construção civil foram não apenas de trabalhadores para o canteiro de obras, mas também tivemos oportunidades em toda a cadeia do segmento, com vagas na área comercial, operacional, projetos, administrativo, análise de crédito, entre outros. O setor conseguiu manter o planejamento inicial para 2020 e não recuou diante da pandemia, então foi bastante diferente do que ocorreu com outros mercados”, define Cristiane.
A recrutadora atua na seleção de trabalhadores para as obras do Residencial Porto Dourado, em Goiânia, empreendimento da Vila Brasil Engenharia, empresa do Grupo Toctao, e aponta que a tendência de bons resultados tem se repetido nos primeiros quatro meses do ano. Atualmente, a empresa tem diversas vagas abertas para atuação nas obras em Goiânia.
Uma das felizardas, recém-contratada para a obra do Residencial Porto Dourado, é a técnica em Saúde e Segurança do Trabalho Osvanildes Rodrigues. Com 11 anos na profissão, ela estava desempregada há dois meses e se sentiu aliviada por ter conseguido essa nova colocação rapidamente, mesmo na pandemia. “Eu estava com medo de ficar desempregada por muito tempo, vários amigos meus perderam emprego por causa da pandemia e tenho colegas de profissão que estavam desesperados. Então, ter conseguido esse emprego foi um alívio. Agora me sinto tranquila e segura, fui abençoada com essa oportunidade”, celebra a goiana.
Uma empresa que manteve o ritmo aquecido de contratações foi a City Soluções Urbanas. A coordenadora de pessoas e performance da empresa, Thatyane Couto, lembra que a empresa não demitiu funcionários em razão do lockdown no ano passado. Ao contrário, aumentou a equipe. Só para o escritório, tiveram 16 vagas de aumento de quadro em 2020, chegando em uma média de 65 colaboradores na incorporadora. “Em 2021, esse número continuou crescendo e chegará a uma média de 85 colaboradores, contando com os quatro novos funcionários que iniciarão em 3 de maio. Ainda este mês, contrataremos mais três para o escritório”, destaca ela.
No momento, duas obras estão em andamento e a terceira vai iniciar, contando em média com mais 200 trabalhadores contratados pelo regime celetista na construtora. “Com os lançamentos já previstos, contrataremos mais profissionais para os canteiros de obras”, acrescenta. O headcount considerando o grupo todo contará com mais de 500 colaboradores.
Chegando aos 10 anos de história, a empresa irá, pela primeira vez, lançar aumentar em 30% o volume de lançamentos, crescimento estimulado pelo bom momento do setor. “Normalmente, estávamos lançando até dois residenciais a cada ano, mas em 2021 serão três”, diz o diretor da construtora e incorporadora, João Gabriel Tomé. A empresa está com duas obras em andamento e vai começar mais uma este mês.
Segundo a última Pesquisa Nacional Contínua por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo IBGE no final do ano passado, a construção civil teve o maior crescimento ocupacional entre as atividades abordadas, com alta de 10,7%, mais que o dobro da segunda colocação – comércio e manutenção de veículos, que cresceu 4,4%. Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura apresentaram alta de 3,8%, e indústria, de 3%. Diante do bom resultado frente a um ano completamente atípico, a expectativa do mercado é de que a construção civil continue sendo um dos braços fortes da economia brasileira em meio à crise que toma conta de tantos outros segmentos.
Autor: Túlio Moreira